sábado, 1 de setembro de 2012

III CALDEIRÃO DE CULTURAS BRASIL- FESTA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

HOJE COMEÇA UMA SÉRIE DE CRÔNICAS SOBRE "CONSCIÊNCIA NEGRA". VAI ATÉ O DIA 24 DE NOVEMBRO,QUANDO COMEMORAREMOS LÁ NO PROG ESCOLA ABERTA - CEBS.
VAMOS COMEÇAR COM A FALA DE JEANE SIQUEIRA, PROFESSORA E ESCRITORA.
ESSA TAMBÉM É PARTE DA ENTREVISTA PARA O DOCUMENTÁRIO...

 O QUE É TER CONSCIÊNCIA NEGRA?
Ter consciência negra é saber que sou criação de Deus, como qualquer outro ser. Sou negro, de lábios grossos e cabelo pixaim por Sua divina vontade.
É saber que corre em minhas veias o sangue dos meus antepassados, grandes guerreiros negros, sem ter vergonha de ter ancestrais escravizados. Porque, vergonhoso mesmo, é escravizar, bater, maltratar e matar.
É saber que foi o meu povo quem mais colaborou para que o Brasil seja hoje um país de muitas possibilidades, e que isso lhe custou lágrimas de dor, suor e sangue.
É saber que inúmeras coisas que fazem parte da cultura brasileira foram trazidas da África ou criadas aqui pelo negro. Feijoada,vatapá, acarajé, maracatu, samba, capoeira e afoxé são exemplos que lhe dou.
É saber que o Brasil conheceu a força e a magia dos orixás, através da fé do homem negro. E que a religiosidade do povo brasileiro ainda hoje se multiplica com a presença das nossas rezadeiras e zeladores de santos.
É saber que a inteligência humana não tem nada a ver com a cor da pele. Negros e brancos são igualmente capazes, igualmente inteligentes, igualmente humanos.
É saber que ainda há discriminação e preconceito nas relações entre as pessoas. E que devo exigir os meus direitos de igualdade de acordo com a Lei de Deus perante a frágil e imperfeita dos homens.
É saber que não há raça superior a minha. Raça negra, raça branca ou indígena são simplesmente raças humanas.
É conhecer a história do meu povo e se orgulhar dos seus heróis. Heróis aclamados como Zumbi. Heróis anônimos como os que deram exemplo de coragem, dignidade e fé nas senzalas dos incontáveis engenhos de açúcar e fazendas de café do Brasil.
É me olhar no espelho e enxergar a beleza dos meus traços físicos, sabendo que bem maior é a beleza da minha alma negra.
É poder dizer, com o peito explodindo de orgulho, que sou negro sim. E sentar-me de cabeça erguida ao lado de qualquer um. Sabendo que a capacidade de amar é que me colocará em situação superior aos olhos dos homens de bem e de Deus, pois grande é quem ama e desenvolveu em si mesmo o poder de reconhecer qualquer homem como irmão.
por Jeane Siqueira,
Cícera Maria

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